O Rio de Janeiro é uma cidade de mistérios. Apesar de rios de tinta terem sido gastos nos últimos 150 anos para explicar a cidade e sua trajetória, ela tem zonas de sombra, envoltas em treva, e que a academia preguiçosamente reluta em iluminar. Uma dessas faces escuras é a área de Santa Rita. Nosso olhar sempre esteve adestrado para focar as áreas «sensíveis», onde a elite política e econômica esteve centrada, como o Paço Imperial da Corte Monárquica, a Avenida Rio Branco da Velha República e a Cinelândia da Era Vargas. Para além do Campo de Sant'Ana temos ainda léguas de urbe precisando urgentemente serem devassadas. Mesmo no badalado Centro, as lacunas persistem. A antiga freguesia de Santa Rita é um desses recantos que agora, felizmente e finalmente, começa a sair da escuridão. Esta é uma região marcada pela escravidão. Nasce como freguesia quando o entorno da matriz se torna cemitério dos milhares de africanos que desembarcam num Rio que é portal das Minas de ouro dos sertões das Gerais. Depois se torna o maior complexo negreiro das Américas quando o Vice-Rei delimita o mercado do Valongo em 1774. Transforma-se em empório do café que desce a Serra no braço dos negros na última metade do Novecentos.