Em A caixa de Pandora, segundo drama da trilogia teatral Lulu, cada homem, protegido pela sociedade patriarcal que vislumbra em Lulu uma afronta potencial, tem suas próprias necessidades mantidas na obscuridade. E cada homem deixa-se cair porque, cego quando se trata de perceber seu verdadeiro eu, vive uma indiferença decorrente da mistura de egoísmo e ganância que Wedekind observou como tipicamente masculina. Todos correm atrás de Lulu — mas ninguém consegue realmente alcançá-la, reter sua presença — numa maratona que acaba evidenciando a distância entre aquilo que é de fato e a imagem que os outros portam daquilo que almejam: «Eu não tenho nada além de mim», diz Lulu.
Karl Kraus comenta: «Lulu foi entregue à justiça terrena por um dos conflitos dramáticos entre a natureza feminina e um homem idiota, e ela teria de pensar, durante nove anos de prisão, que a beleza é um castigo de Deus, caso seus devotados escravos do amor não inventassem um plano romântico para sua libertação, um plano que no mundo real não amadurece nem nas cabeças mais fanáticas e que não pode vingar por desejos fanáticos. Com a libertação de Lulu, porém — com o sucesso do impossível, o escritor mostra melhor a capacidade de sacrifício da escravidão por amor do que com o uso de um tema mais crível –, A caixa de Pandora é aberta. Lulu, a condutora da ação em O espírito da terra, agora é conduzida. Mais cedo do que antes, mostra-se que, na realidade, sua sedução é a heroína sofredora do drama; seu retrato, a imagem de seus belos dias, tem um papel maior do que ela mesma. E, se no passado, eram seus encantos ativos que animavam a ação, agora — em todas as escalas do caminho do sofrimento — é a distância entre a for