Este é um livro que se destaca em meio à vasta fortuna crítica dedicada ao grande intelectual vanguardista de São Paulo. Revistando as ideias do autor no campo da música, publicadas entre agosto de 1938 e junho de 1940, esse conjunto de cônicas revela a sintonia fina de Mário com o ambiente musical brasileiro.
A obra dá conhecer aos caminhos percorridos pelo seu pensamento nesses anos sombrios de sua vida, marcados por profunda desilusão, após o afastamento do Departamento e Cultura e o naufrágio da candidatura de Armando de Salles Oliveira à presidência do Brasil, culminando com o seu deslocamento para o Rio de Janeiro, obrigado a abandonar a querida Paulicéia desvairada. O modernista percebia, sobretudo, o franco questionamento das suas propostas experimentais movido pelas novas gerações, aos que se somavam as suas amarguras profissionais.
Na capital da republica, Mário de Andrade também não encontrou proteção suficiente para diminuir as decepções. A Universidade do Distrito Federal recém-criada, na qual chegou a dirigir o Instituto de Artes, foi abordada pelo Estado Novo; o seu projeto para orientar a política do patrimônio cultural foi bastante alterado; em suma, Mário perdera posição e espaço intelectual, que anteriormente ocupara em São Paulo. A sua frase de 1923 — “sou lobo sem alcateia” — é substituída por atitude amena diante do mundo, quase humilde. Sintomaticamente, a expressão “sejamos todos musicais”, retirada de uma de suas crônicas, releva também certo desejo de encontrar possível harmonia nas classes modernistas; sobretudo apontava para as questões mais íntimas.