Em Paris, Frank Wedekind escreveu a trilogia Lulu, composta por O espírito da terra, A caixa de Pandora e Morte e diabo. Lá, ele assistiu a uma performance chamada Lulu, o Clown Dancer — um cruzamento entre pantomima e ato de circo -, que pode ter gerado ideias para a construção da trilogia; além disso, conheceu Lou Andreas-Salomé, amiga de Freud, Nietzsche, Rilke, que alguns dizem ser a inspiração para Lulu.
Wedekind trabalhou muito para escrever as peças. Seu editor previu que a história de uma jovem mulher à deriva na Alemanha do fim do século XIX, que deixa evidente seu êxtase sexual e ocasiona a morte para seus muitos amantes, enfrentaria dificuldades legais para ser publicada. Por isso, Wedekind foi obrigado a revisar incansavelmente as peças, um processo que continuaria até que existissem várias versões, de acordo com as diversas necessidades.
As duas primeiras peças serviram como modelo para o filme Pandora's Box, de G. W. Pabst, cujo desempenho de Louise Brooks transformou-a no primeiro grande ícone do cinema, a eterna mulher-criança.
Segundo Karl Kraus, o grande crítico de Wedekind, quando Alwa, escritor e amante, oscilando entre o amor e a criação artística da beleza feminina segura a mão de Lulu na sua, diz que 'ela é uma alma que se desperta esfregando o sono de seus olhos', enuncia as palavras que são a chave para esse labirinto da feminilidade, no qual, às vezes, o homem perde o sinal de sua razão. É assim no último ato de O espírito da terra, quando a dona do amor reúne ao seu redor todos os tipos masculinos para que eles a sirvam, na medida em que aceitem o que ela tem a oferecer. Essas palavras, ditas diante da mulher que se tornou a destruidora de tudo, porque tinha sido destruída por todos, deixam clara a ideia marcante que envolve o mundo do escritor Frank Wedekind: um mundo no qual a mulher que tenha alcançado a maturidade estética não esteja condenada a livrar o homem da cruz da sua responsabilidade moral.