Estamos vivendo num mundo tecnologizado e em mutação rápida, em se exige das pessoas eficácia, rapidez e racionalidade. Ingressamos na era digital, com a entronização da máquina, que tem a velocidade como sua marca registrada. Estabelece-se um paradoxo: quanto mais tecnologia incorporada mais o homem tem que correr para cumprir suas tarefas. Até para desfrutar do lazer, estamos com pressa. Esta sociedade da eficiência e dos prazos fatais é uma fábrica de neuróticos. Nós não temos a velocidade das máquinas, espécie de paradigma da civilização contemporânea, de sorte que processamos as informações de modo lento, o que é próprio de um organismo biológico.
Por outro lado, a incorporação de conhecimentos (particularmente tecnocientíficos) é cada vez mais acelerada, o que pode gerar um certo grau de cacofonia nos usuários desses conhecimentos. A ciência persegue o conhecimento, enquanto a tecnologia persegue a eficiência. O casamento da ciência com a técnica, tira a ciência do seu estágio amadorista. Ela se profissionaliza e se torna a tecnociência. E, no final do século XX, os humanos se acostumaram a ver na tecnociência a fonte das respostas universais — uma espécie de gazua mágica capaz de abrir as portas do futuro. A ciência, aliada à tecnologia, seria uma espécie de solução redentora para a humanidade e a escatologia científica da sociedade do conforto, da abundância, da justiça, da saúde e da felicidade passou a imperar. É preciso considerar que a tecnologia moderna não pode ser reduzida ao papel de mera ferramenta: o homem-alavanca caminhou celeremente em direção ao homem-digital. Os objetivos da tecnociência são ambiciosos: comandar a natureza, modificar a biologia dos seres humanos, criar a vida, manipular a sociedade… e isso tudo não é feito impunemente. Tem um preço. É preciso fugir da tecnolatria, sem cair na tecnofobia. E você, leitor, que está com o livro em suas mãos, leia logo o miolo do livro para saber como a Inteligência Artificial está impactando a vida em nosso planeta.